Proliferação de baratas preocupa autoridades e especialistas: “Elas estão a conquistar as cidades”


Portugal enfrenta uma vaga preocupante de proliferação de baratas em áreas urbanas e residenciais, um fenómeno que tem gerado apreensão entre as autoridades de saúde pública e os gestores de edifícios. O aumento das temperaturas médias e a resistência destes insetos aos métodos tradicionais de controlo estão entre as principais causas apontadas pelos especialistas.

João Leitão, presidente da Associação Nacional do Controlo de Pragas (ANCP), explica que o clima mais quente favorece a reprodução acelerada das baratas e o seu aparecimento fora dos esgotos. “São insetos extremamente adaptáveis, com grande capacidade de reprodução e resistência a muitos biocidas”, refere.

Além do desconforto, o problema representa um risco sanitário relevante, já que as baratas são vetores de doenças como gastroenterite, disenteria, listeriose e salmonelose. “Circulam por cozinhas, bancadas e alimentos, podendo contaminar espaços mesmo sem se dar por isso”, alerta João Leitão.

Lisboa no topo das zonas mais afetadas

As grandes cidades — especialmente Lisboa, Porto e Algarve — estão entre as mais afetadas. Na capital, a zona entre o Parque das Nações e a linha de Cascais regista uma das maiores concentrações. “Há mais resíduos, mais comida e mais calor. É o cenário perfeito para as baratas proliferarem”, explica o especialista, acrescentando que o aumento do turismo também contribui para o problema.

Em alguns casos, a responsabilidade pelo controlo é das câmaras municipais, quando a origem está nos esgotos. No entanto, João Leitão critica a falta de atualização dos concursos públicos e a escassez de recursos: “Os orçamentos e o número de visitas técnicas são insuficientes para erradicar as pragas”.

Nos casos em que a infestação ocorre em habitações privadas, cabe aos proprietários agir — ou contratando especialistas, ou seguindo medidas rigorosas de limpeza e prevenção. O custo dos serviços de desinfestação pode variar entre 250 e 700 euros, mas o problema pode reaparecer se não forem tomadas medidas preventivas.

Três espécies dominam as infestações

Em Portugal, predominam três espécies urbanas: a barata alemã (Blattella germanica), pequena e comum em cozinhas e casas de banho; a barata oriental (Blatta orientalis), mais escura e resistente ao frio, frequente em caves e esgotos; e a barata americana (Periplaneta americana), a maior das três, capaz de voar e frequentemente associada a cozinhas industriais e armazéns.

Medidas urgentes e boas práticas

O presidente da ANCP defende um plano de ação conjunto entre cidadãos, empresas e autarquias. Recomenda-se a vedação de fendas e ralos, limpeza rigorosa e inspeção de mercadorias. João Leitão sublinha a importância de “implementar um sistema de controlo integrado de pragas”, destacando que já existem empresas certificadas pela norma europeia EN NP 16636.

Enquanto isso, especialistas aconselham rotinas domésticas de prevenção: limpezas profundas semanais, eliminação de resíduos alimentares, uso de iscos e biocidas em locais estratégicos, e atenção a sinais de infestação — como excrementos, cápsulas de ovos ou odores fortes.

O alerta é claro: com o clima cada vez mais quente e úmido, as baratas estão a ganhar terreno — e combater a sua invasão exige vigilância, prevenção e cooperação.

0